MITOS PARA UMA VERDADEIRA E EXEMPLAR GLOBALIZAÇÃO
1.
Ernesto «Che» Guevara trabalha actualmente em Paris. É ‘designer’ numa multinacional. À noite, no seu apartamento nos subúrbios da ‘ Cidade – Luz ‘, sonha com tangos.
Deixou de fumar e engordou um pouco. Não tem mulher. Nem animais. Mal conhece os vizinhos. Vai pouco ao cinema e quase nem olha para a televisão.
Faz compras num hipermercado uma vez por semana. Evita a todo o custo as caixas onde reconhece a cara da mesma menina da semana anterior.
Aos fins de semana passeia por sítios barulhentos e muito procurados por turistas. Por trás das folhas do jornal vai observando os japoneses a tirar fotografias de três em três segundos, os barulhentos rebanhos de turistas velhos e trôpegos seguindo obedientemente um pastor-guia-turístico que brande no alto o seu cajado – guarda – chuva de cores berrantes.
Sonha, Ernesto, com tangos nas escadarias de Montmartre.
“ I ‘ don’t Boliviá... “
Ernesto quase juraria que esta frase lhe fora sussurrada ao ouvido agora mesmo!
Tem um ligeiro estremecimento que faz com que deixe cair o jornal para cima de um japonês que tentava focar a cúpula do Sacré – Coeur. Embaraçado, Ernesto, resmunga um pedido de desculpa. O nipónico, porém, sorri e estende-lhe uma pequena máquina fotográfica.
Ernesto mira e dispara.
Mishima cai fulminado algures na Sierra Maestra.
2.
Há muitos anos que aceitou passar a chamar-se Lynda. Trabalha agora numa área de serviço à beira da auto – estrada.
Notam-se-lhe perfeitamente as raízes brancas dos cabelos.
Os clientes chegam com os tabuleiros cheios de sanduíches envoltas em celofane, saladas de milho transgénico, copos a transbordar de coca – cola, entregam-lhe cartões de crédito e ela diz invariavelmente verde código verde.
Todas as noites toma três comprimidos para dormir e perfuma-se com algumas gotas de Chanel n.º 5.
O telemóvel, esse, fica sempre ligado: Lynda gosta de abrir os olhos no escuro e encontrar aquela luzinha a apagar e a acender como se fosse um farol a indicar-lhe o caminho do porto de abrigo.
3.
Olha para a noite de Amsterdão e sente estranhas saudades de campos de terra avermelhada iluminados pela Lua.
Vende artesanato numa ruela movimentada perto do Mercado das Flores e sente-se bem no seu corpo de mulher madura.
À noite, se abusou da erva no ‘cofee-shop’, já sabe que há-de voltar o tal sonho recorrente com o olho do cão a ser extirpado pelo escalpelo.
Durante o dia, vai arrumando diligentemente as caixas de bugigangas que lhe chegam semanalmente de Taiwan.
Por vezes, lembra-se da sua existência anterior e canta ‘seguidillas’ que os turistas fotografam.
Incomodam-na, sobretudo, os ‘flashes’. Fazem-lhe sempre lembrar as descargas das armas do pelotão de fuzilamento.
Ernesto «Che» Guevara trabalha actualmente em Paris. É ‘designer’ numa multinacional. À noite, no seu apartamento nos subúrbios da ‘ Cidade – Luz ‘, sonha com tangos.
Deixou de fumar e engordou um pouco. Não tem mulher. Nem animais. Mal conhece os vizinhos. Vai pouco ao cinema e quase nem olha para a televisão.
Faz compras num hipermercado uma vez por semana. Evita a todo o custo as caixas onde reconhece a cara da mesma menina da semana anterior.
Aos fins de semana passeia por sítios barulhentos e muito procurados por turistas. Por trás das folhas do jornal vai observando os japoneses a tirar fotografias de três em três segundos, os barulhentos rebanhos de turistas velhos e trôpegos seguindo obedientemente um pastor-guia-turístico que brande no alto o seu cajado – guarda – chuva de cores berrantes.
Sonha, Ernesto, com tangos nas escadarias de Montmartre.
“ I ‘ don’t Boliviá... “
Ernesto quase juraria que esta frase lhe fora sussurrada ao ouvido agora mesmo!
Tem um ligeiro estremecimento que faz com que deixe cair o jornal para cima de um japonês que tentava focar a cúpula do Sacré – Coeur. Embaraçado, Ernesto, resmunga um pedido de desculpa. O nipónico, porém, sorri e estende-lhe uma pequena máquina fotográfica.
Ernesto mira e dispara.
Mishima cai fulminado algures na Sierra Maestra.
2.
Há muitos anos que aceitou passar a chamar-se Lynda. Trabalha agora numa área de serviço à beira da auto – estrada.
Notam-se-lhe perfeitamente as raízes brancas dos cabelos.
Os clientes chegam com os tabuleiros cheios de sanduíches envoltas em celofane, saladas de milho transgénico, copos a transbordar de coca – cola, entregam-lhe cartões de crédito e ela diz invariavelmente verde código verde.
Todas as noites toma três comprimidos para dormir e perfuma-se com algumas gotas de Chanel n.º 5.
O telemóvel, esse, fica sempre ligado: Lynda gosta de abrir os olhos no escuro e encontrar aquela luzinha a apagar e a acender como se fosse um farol a indicar-lhe o caminho do porto de abrigo.
3.
Olha para a noite de Amsterdão e sente estranhas saudades de campos de terra avermelhada iluminados pela Lua.
Vende artesanato numa ruela movimentada perto do Mercado das Flores e sente-se bem no seu corpo de mulher madura.
À noite, se abusou da erva no ‘cofee-shop’, já sabe que há-de voltar o tal sonho recorrente com o olho do cão a ser extirpado pelo escalpelo.
Durante o dia, vai arrumando diligentemente as caixas de bugigangas que lhe chegam semanalmente de Taiwan.
Por vezes, lembra-se da sua existência anterior e canta ‘seguidillas’ que os turistas fotografam.
Incomodam-na, sobretudo, os ‘flashes’. Fazem-lhe sempre lembrar as descargas das armas do pelotão de fuzilamento.
F R (sumo papal d'almada)
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