O
mundo é grave, absurdo & inexorável, & carece de Arte &
Humor – vitaminas essenciais para suportarmos o tédio existencial. A
dimensão intelectual é um arcabouço de imbecilismo, forrada com uma
ciência selvática & caduca, atravessada por sistemas filosóficos
medíocres & sustentada pelo autoritarismo de autores sacrossantos –
Freud, Marx, Kant & outros endeusados pelo fetichismo acadêmico.
Faço deste manifesto um convite aos Artistas & Intelectuais a
subverter & transgredir este cenário estupidificante.
Este é um
manifesto, sobretudo, pela Arte & pelo Humor.
Principia Discordia – Kerry Thornley
Os
Anarcofágicos – anarco (relativo a anarquia) & fagia (do grego,
phagein: come) – são devoradores de teorias, lógicas, paradigmas &
cosmovisões que não adoptam ideologias, valendo-se de teorias
provisorias para fragilizar as demais.
Para além da refutação
higienizadora & massiva, os Anarcofágicos entendem que para activar a
imaginação, o delírio & o prazer das massas eles devem perfurar a
dimensão mais quotidiana da vida humana promovendo: a) arte
transgressora, como prazerosa alucinação colectiva, & não reduzida a
produto, espectáculo, poder de impacto ou militância ideológica; b)
humor como último argumento contra o tédio existencial, aproveitando a
capacidade dele pautar símbolos, reforçar estigmas, criticar
comportamentos, derrubar estereótipos & satirizar arquétipos – Zero
Mostel disse que “o grau de liberdade que há em qualquer sociedade é
directamente proporcional ao riso que nela existe”.
Theodor Adorno
estabeleceu o excêntrico como critério da arte: “a arte é a antítese
social da sociedade, & não deve imediatamente deduzir-se desta”
& Vladimir Maiakovski atribuiu um carácter construtor à arte: “a
arte não é um espelho para reflectir o mundo, mas um martelo para
forjá-lo”. Adorno errou considerando a arte apenas em sua dimensão
social & Maiakovski esqueceu do poder de desconstruir da arte, como
ilustrou endogenamente Roberto Piva: “arcanjos de enxofre bombardeiam o
horizonte através dos meus sonhos”. Esta é a aposta da Arte
Anarcofágica.
O INTELECTUAL ANARCOFÁGICO
Eu me contradigo? Pois muito bem, eu me contradigo, sou amplo, vasto, contenho multidões.Walt Whitman
O
Intelectual Anarcofágico é multidisciplinar & apela mais para a
aparência das argumentações do que as suas consistências lógicas –
acreditando que mais vale a beleza das ideias do que a coerência com a
realidade absolutizada pela razão, como manifestou Charles Bukowski:
“não confio muito nas estatísticas, porque um homem com a cabeça dentro
de um forno acesso & os pés no freezer, estatisticamente possui uma
temperatura média”.
As armas de combate dos Anarcofágicos é a Arte
Anarcofagica, a Ciência Experimental, o Ensaísmo Lírico & o Humor
Contundente.
Os Anarcofágicos não representam um grupo de esquerda
& acreditam que “se a revolução não servir para dançar e rir, não
será nossa revolução”, como escreveu Bob Black, um Groucho-Marxista.
ARQUI-INIMIGOS E ALIANÇAS
1ª Lei Absoluta: PATAFÍSICA- Tudo é decidido pela imaginação e não pela razão.
2ª Lei Não Absoluta: Não encher as caras aos domingos.
Quem quer fazer sentido?
A realidade é relativa;
A Fantasia é bem melhor;
Arte, Poesia e Loucura.
3ª Lei Absoluta: Usar LSD.
4ª Lei Absoluta: Enlouquecer a Política.
5ª Lei Absoluta: Nenhum tipo de censura. Mandar as preposições e a gramática pro inferno!
6ª Lei Absoluta: O que fazer em casos de incêndio? Deixe queimar!
7ª Lei Absoluta: Jogar uma garrafa de conhaque no Delírio Coletivo
8ª Lei Absoluta: DELIRAR.
9ª Lei Absoluta: Assassinar a monotonia causada pela razão.
Leis Absolutas do Delírio Coletivo – Por Fada Verde
Arqui-inimigos
& alianças são deliberações dos Anarcofágicos. Aos arqui-inimigos
oferecemos extermínio argumentativo & às alianças oferecemos ajuda
apologética de suas bandeiras & causas.
O Intelectual Gramsciano é
um dos arqui-inimigos dos Anarcofágicos – defendem certos princípios
& acreditam dogmaticamente em somente uma forma de mudança social,
geralmente doutrinados acriticamente pelos que se dizem críticos. O
Niilista também é um dos arqui-inimigos dos Anarcofágicos – por fazerem
covardias com suas existências.
As alianças são com os
Antiproibicionistas – entendendo os direitos humanos & os anseios
libertários da percepção -, & com os Discordialistas – responsáveis
por operações como Salve os Anões de Jardins & Mindfuck (criação de
uma zona onde a normalidade e o comum sejam suspensos e trocados pelo
anormal e incomum).
MILITÂNCIA & REIVINDICAÇÕES
Não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio-pau a bandeira da imaginação.Manifesto Surrealista – André Breton
As
bandeiras & reivindicações são renovadas pelos Anarcofágicos com
frequência & cada Anarcofágico tem a liberdade de escolher se vai
militar por elas & quais vai adoptar, assim como propor a inclusão
de novas.
Os Anarcofágicos defendem a cultura popular, o folclore, o
jardinismo da área urbana, a transformação de praças publicas em centros
de cultura & arte, as terapias naturais & artísticas, os
direitos humanos, o antiproibicionismo, a flexibilidade da língua, o
zombar filosófico – “zombar da filosofia é realmente filosofar”, como
escreveu Blaise Pascal (1623-1662) -, o culto da percepção & da
sensibilidade, a ventilação da arte & a democratização da dimensão
artística da vida cotidiana.
Os Anarcofágicos reivindicam: uma edição
higienizada & conservada do Kama Sutra para as próximas gerações,
cotas para desenhos infantis que reproduzem músicas clássicas, o fim da
avaliação valorativa (de 0 a 10) propondo a promoção das avaliações
adjetivas, a proibição moral de dar nós nas sacolas – responsável por
significativa carga de stresse da humanidade -, & a liberdade do
compositor brasileiro – “aí chegou o gringo com o sequencer para prender
o músico brasileiro na camisa-de-força do metonímico 4/4 rock-pop-box.”
como escreveu Tom Zé.
manifesto original in: http://deliriocoletivo.org/aani/textos/anarcofagia.html
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